quarta-feira, março 23, 2011

A última placa.

Ontem passei por duas placas, nunca antes avistadas...a primeira e misteriosa trazia a descrição "19º quilômetro"; nessa estrada me ví em algumas madrugadas perdido pela cidade, na companhia de poucos e bons amigos, todos bêbados e com um Chicken Jr na mão. Me deparei comigo, descendo a rua sozinho, as 7 horas da manhã, com a pré-ressaca em minhas costas e o desaparecido Bule em uma das mãos. Consegui enxergar até mesmo o polo, ou famoso Paulo, rodando por essa cidade pacata, procurando olhos para se mostrar e postos para se resguardar.
Após esse lapso de flashs, como se fossem filmes dos meus finais de semana, festas e derivados, passando vagarosamente pela estrada; reparei em algumas mulheres em um ponto de ônibus, quando parei para melhor reparar, ví que todas elas (que no caso eram poucas), um dia pegaram 'carona' comigo no meu Décimo Nono quilômetro de vida; estavam todas radiantes, 2 vezes mais bonitas do que quando as conheci, algumas felizes por me reencontrar...outras nem tanto. Afastada desse ponto, estava ela, com seu tamanho reduzido, chutando pedrinhas no acostamento e dando aquela risada divina! Curioso como só, fui devagar, checar quem seria aquela perdida em minha rodovia...bastou um relance e pude avistar seus olhos, aqueles inconfundíveis, aqueles de ressaca, aqueles que me fazem companhia até hoje.
Após ganhar essa companhia inusitada que a estrada da vida me ofereceu, continuei percorrendo aquela imensidão de asfalto; e então, quase não acreditando me deparei com 4 pessoas caminhando 'juntas', juntas entre aspas, pois devido as personalidades distintas os 4 pareciam não caber em apenas uma estrada! Um era meu pai, sempre com pressa, com a camisa suada e sua montanha de papéis e NF´s, me perguntando: Rafael, não seria essa a profissão certa para você?!; a outra era uma mulher cujo nome não citarei e que sou agradecido até hoje, andando com sua simplicidade e ao mesmo tempo com sua arrogância, pisando firme e parecendo olhar sempre para frente, buscando novos horizontes ou talvez temendo seu passado e me ordenando: Rafael, pegue esse telefone e venda, eu te pago para isso!; o terceiro era um homem de média estatura, sempre de camisa, calça social e sapato, por mais que fosse o sol que fizera no dia, com algumas caixas de sapato equilibradas nas mãos e me indagando: Rafael, muito calor no estoque né?! Mas é Dezembrão! é Dezembrão!; a última mas não menos importante, era uma senhora, com cara de boazinha, roupas elegantes e um jeito atrapalhado mas concentrado, sempre zelando pela ética no trabalho, me chamando a atenção: Rafael, já disse que documentos podem emperrar na máquina de xérox, espero que isso não se repita. Todos esses que um dia foram meus 'pais' pois me deram uma oportunidade em um momento difícil da minha jornada.
Depois de todas essas eSquetes da minha trajetória ao longo de apenas um quilômetro de minha vida, avistei a segunda placa, muito distante... acelerado e curioso, fui em busca da misteriosa, quando ví estava parado ao lado dela...olhei bem, lí com muita atenção, segurei na mão da minha pequena e segui viagem.

Essa segunda e última placa, trazia os seguintes escritos: Bem-Vindo ao 20º quilômetro. Feche os olhos, vá em frente e seja feliz!