terça-feira, janeiro 10, 2012

Debaixo da lona - Continuação

Luca: Acredita em paraíso Miguel?
Miguel: oi?
Luca: Perguntei se você acredita, vida após a morte...essas coisas.
Miguel: Acredito! Uma vez em Vicenza, uma senhora católica me hospedou; todo dia quando o relógio marcava 17:00 horas, ela acendia uma vela pra São Pio de Pietrelcina. Era sempre a mesma coisa, acendia a vela, rezava o terço, guardava as coisas e colocava a mesa para o jantar; era viúva a pobre senhora, marido tinha morrido na guerra...
Luca: Rapaz, o que que isso tem a ver?
Miguel: Ô tonto, estou fazendo uma introdução da história! Posso continuar?
Luca: Continua, mas para de enfeitar!
Miguel: Continuando, o esposo morreu na guerra, mas todo dia ela o citava em suas orações, dizia que já estava cansada de esperar, que não via a hora de ver aqueles velhos olhos azuis novamente; chegava muitas vezes a desejar o último sopro, só para encontrar com o siciliano de sua vida.
Luca: É a idade né?! As pessoas mais velhas não pensam muito bem.
Miguel: Ô Luca, você está de brincadeira comigo?! Não entendeu nada o que eu disse né?!
Luca: Além de atirador de facas, você é filósofo então?! Explica aí então, Aristóteles!
Miguel: Não é a toa que é o palhaço...
Luca: Que?
Miguel: Nada, estou brincando! Não vai ficar nervosinho!
Luca: ta...tá. Mas explica aí...
Miguel: Luca, pensa comigo; céu, paraíso ou seja lá como as pessoas denominam, deixou de ser uma utopia, para ser uma meta para a Senhora Andrea. Ela fazia planos de quando encontraria seu falecido, ela vivia isso; se uma pessoa acredita tão piamente em uma coisa, ela acaba se tornando verdadeira. Pode não existir nuvens ou jardins frutíferos, mas com certeza os olhos azuis a acompanharam para o resto da eternidade.

E assim, com a longínqua explicação de seu escudeiro, Luca pode deslumbrar seu pai, no mais belo de todos os circos, com anjos de platéia, gargalhando a cada palhaçada, e ganhando um sorriso sincero de Jesus, que sentado no colo da Virgem assiste ao maior espetáculo da terra, e agora aparentemente do céu também.

(mesmo esquema).