quarta-feira, dezembro 14, 2011

Debaixo da lona.

De cima do trailer, o palhaço conseguia ver o sol se pondo, por trás das árvores muito bem copadas; o tal ia descendo devagarzinho, com uma preguiça típica de final de agosto.
O som da gaita vinha acariciando seus ouvidos, carregando-o para um colchão de plumas, sendo abanado por anjos e servido por lindas mulheres...porém mais rápido que sua imaginação pudera prever, se deu conta que não havia colchão, nem anjos e para maior desespero a única mulher ali era a barbada. Seu amigo Miguel, o atirador de facas, era quem tocava, havia aprendido em um mochilão feito nas épocas de garoto, enquanto percorria a poética cidade de Vicenza.
Mesmo sabendo da origem, Luca, o palhaço, foi se deixando embriagar pela melodia, relembrando tantos e tantos anos embaixo daquela lona; de brigas com os anões, até conversas filosóficas com Mel, a elefanta. Da triste partida do velho amigo Rui, o mágico, até as encantadores tardes de chegada do circo nas cidades.
Ele saíra cedo de casa, foi atrás de um balão que pairava pelo ar, cortando vilas e cidades, até que se viu exausto e sentou para descansar, podendo então reparar que já não estava mais em sua terra natal e que nada havia lhe prendido lá; com esse pensamento que suas raízes não eram daquele lugar, foi em busca de sua terra prometida.
Aos 11 anos conheceu o circo, ficou encantado com o novo mundo diante de seus olhos, indagava como um homem seria capaz de cuspir fogo, de uma pessoa se contorcer toda sem quebrar nenhum osso ou para seu espanto como uma mulher poderia ter barba?! Até os dias de hoje, ele não se acostumou com Marlene, a mulher barbada.
Sem dinheiro, com fome e todo sujo, assistiu ao espetáculo espiando pelo buraco da lona, rezando para que não fosse apanhado, segurando o riso ao ver Carlos, o palhaço Marmita, e imaginando como era possível existir alguém tão engraçado! Após a saída de Marmita, continuou com os olhos fixos em sua descoberta, até ser surpreendido por uma sombra deformada. Os sapatos eram enormes, as calças listradas e largas, usava suspensórios e uma gravata borboleta....Era Carlos quem estava ali; e vendo a situação do garoto, o trouxe para atrás do picadeiro, lhe ofereceu a pouca comida que restara e a água no velho galão azul, e pronto, Luca tinha ganho um pai.
Sem muitas habilidades naturais, sem dom com animais, sobrou a profissão de seu protetor; o menino virara palhaço. Levava jeito com as trapalhadas, parecia até ensaiar o erro, como se planejasse a improvisação, era uma alegria que vinha de dentro de sua alma, sua fisionomia ajudava a agradar a platéia que se fartavam de tanto rir; nascera por ironia do destino o palhaço Passa Fome, da conceituada dupla atrapalhada "Marmita e Passa Fome".
Foram nove anos dourados, conhecendo os quatro quantos do Brasil, sempre com a companhia de seu pai; algumas temporadas com romances com uma equilibrista, ou então com a assistente do mágico...nada muito sério que lhe fizesse afastar de seu fiel escudeiro. Até o dia em que repentinamente seu mestre partira, mas dessa vez sem a caravana do circo, despediu-se da vida fazendo o que sabia fazer de melhor, os outros rirem; e mais uma vez por ironia do destino, mesmo na hora do falecimento a platéia gargalhava, achando que tudo fazia parte do show. Com uma única lágrima borrando-lhe a maquiagem olhou pela última vez seu 'filho' e abriu seu último sorriso.

(depois continuo, acabou a vontade).

domingo, dezembro 04, 2011

Norte, sul, leste e Oeste.

Como aquela velha benção do padre, como o velho olhar daquela velha freira, como uma velha esperança da noviça; é assim que me sinto em relação a Deus.
Não preciso de altares, nem de correntes fervorosas...muito menos de fotos e declarações em redes sociais; me pego em silêncio e consigo estar com Ele, pedindo conselhos, assumindo pecados e sempre pedindo ajuda.
Sigo seus ensinamentos como doutrina, guardo suas palavras como regras , levo sua história como a melhor das escritas; e devido a isso nunca pisei em ninguém para chegar onde estou hoje, podendo assim olhar no espelho e sem hipocrisia ter orgulho do que vejo.
Não temo rótulos e nem preconceitos por ser assim; me orgulho à cada sinal da cruz que faço!
Bato no peito com força!
Eu sei que Ele está do meu lado.
Está me guardando e me guiando.
Me protegendo e me mantendo em pé!
E tenho uma certeza comigo:
A todos que me querem mal,
nada me atingirá.
Eu tenho Ele ao meu lado,
e contra Ele, vocês podem tentar, tentar e tentar...

sábado, outubro 15, 2011

A Verdadeira Essência.

De escritor acredito que tenho somente a escrita. Me peguei pensando cá com meus botões e reparei que outros requisitos básicos não se enquadram em meu perfil...
Talvez a escrita possa ser diferenciada, mas e a calça bege?! Não, essa não faz parte do meu vestuário e nem se quer consta numa futura lista de compras; lista essa que é corriqueira. Sim, consumista nato influenciado pela mídia e com pouco peso na  consciência.
Juntando tudo em uma frase, talvez consiga me redimir...mas e o óculos de grau?! Não, Deus sempre me proporcionou visão clara e precisa. Quem sabe um fundo de garrafa, só para compor o estilo?! Infelizmente meu senso do ridículo também não me permite o uso do mesmo.
Posso abrir o dicionário, escolher refinadas palavras, e podem até me chamar de visionário! Mas e o maço de cigarro amassado no bolso da bendita calça bege?! Não, esse mal nunca se fez presente em meu cotidiano. Mas e a bohemia?! Estomago de ferro, beber por horas e filosofar?! Não também...3 copos de Whisky já me fazem chorar (de rir e de tristeza).
Algumas boas indicações de músicas, meia dúzia de livros, e podem até me julgar diferente. Mas e o café?! Um escritor sem um copo de café, não pode ser um escritor! Pois é, cafeina não combina comigo, o cheiro da dita cuja já me entoja.
Momentos de reflexão podem me deslumbrar bons textos e quem sabe alguns elogios. Mas e o sonho pelo cenário caótico de uma metrópole?! Acordar com aquele céu nublado, com aquela garoa fina rasgando o vento?! Não...em meus sonhos existem finais de semana na praia, calor escaldante, um oceano abundante sorrindo pra mim.
Referências de grandes poetas conseguem me fazer transcender, fazendo assim com que as sílabas escorram de minha boca, e automaticamente que o interesse de terceiros se manifeste. Mas e o nerd que estuda, se dedica, e hoje em dia até se orgulha de ser nomeado assim?! E a nota dez nas avaliações das velhas e cansadas professoras?! Não, prefiro meus textos sem padrões, sem regras o tingindo de 'vermelho bic', sem deslumbramentos pelo lindo uso de uma pontuação correta.
Umas quatorze palavras podem formar uma frase inspiradora, incentivar a muitos e render alguns aplausos. Mas e a depressão?! As crises existenciais do cotidiano, o sentimento de rejeição carregado por toda uma vida?! Não, graças a Deus me me vigia e me guarda, nunca percorri sozinho minha história, minhas companhias sempre preencheram meus dias de luz, despertando sorrisos, choros, quedas e voos mais altos.
O coração na ponta do lápis me concede a dança mais esperada da noite, o momento em que sou livre, em que meus dedos tem vida própria, tanta vida quanto cada letra na velha folha. Mas e todas as características que citei anteriormente? Não, eu sou a essência de algo novo e sem modelos; não, eu não sou um escritor de verdade.

sábado, outubro 08, 2011

Até hoje foi assim.

Na minha história,
sonhei com o inesperado,
me apresentei em um tablado,
peguei pipa no telhado,
me julgaram de errado,
sempre busquei o verdadeiro significado.

Até hoje,
nunca desejei estar morto,
familiares já me chamaram de torto,
sempre odiei o morno,
andei de mãos dadas no orto,
já me senti um porco.

E por aí,
seguirei minha sina,
me arrebentando em alguma quina,
saindo com a inquilina,
atirando de carabina,
tomando estriquinina,
afinal...
É o amanhã que me fascina!

domingo, julho 31, 2011

É Vapt Vupt!

Se houvesse um limite de velocidade para a nossa vida,
eu já acumularia alguns pontos na carteira.
Como diria minha avó;
Rápido.
Rasteiro.
Correndo.
Pulando.
Fechando os olhos e se jogando,
de um degrau a outro.
Com medo de pequenas quedas,
alçando grandes vôos,
e desconfiando de médias distâncias.
Desejando um último sinal verde.
Os últimos minutos restantes.
Um ultimo sopro.
Me perguntei se conseguiria ir mais devagar.
Procurar um momento calmo.
Encontrar aquela brisa do final da tarde...
Não, eu não consigo.
A noite seguinte é que me intriga.
A próxima música que me anima.
O próximo copo que me derruba.
O novo beijo é o que me apaixona.
E a alvorada seguinte é a qual eu procuro.

quinta-feira, julho 07, 2011

Eumenino.

Esses dias encontrei comigo mesmo. Sentado, chupando bidú e esperando qual pipa iria cair primeiro...descalço, com uma camiseta antiga e um shorts que cabia 2 de mim! De cabelo despenteado, um bigodinho sem vergonha, sem vergonha pois só havia ele, porque a barba nem se quer tinha dado o ar da graça.
Fui andando em minha direção, com um olho em meu passado e outro na pipa, afinal, sabia que se eu desistisse dela, arrumaria outra coisa pra fazer e sairia logo daquele lugar... chegando ao meu eu, me cumprimentei, e perguntei: "E então muleque, tudo bem?" Como em uma entrevista rápida, eumenino respondi: "Bom, mano."
Pelo palavreado, caí na risada! Não tinha nem tamanho, e já queria impressionar; quase caí na tentação de contar-lhe um pouco do que viria em seguida na vida do meu eumenino; queria lhe falar que essas gírias um dia sairiam do seu vocabulário, que aquelas calças largas se estreitariam, que aquele moletom vermelho novinho, seria peça de recordação, e que aquele bigode...é aquele bigode ainda continuaria incomodando.
Logo após a risada, notei que sua cara não era de estranheza por se ver mais velho, mas porque não reconhecia quem estava falando com ele. Pela cabeça dele, eu era um estranho, com atitudes estranhas e feições estranhas...
Antes que eu indagasse qualquer coisa, eumenino saiu correndo encontrar o amigo, os dois saíram correndo, sem conversas profundas ou exibições de status, só com aquela alegria simples e pura, sem fardos, comparações ou preocupações.
Quando fui chama-lo, percebi que meu pai já tinha se encarregado da função, com um assovio e acenando com a mão para eumenino entrar...
Sentei na calçada da praça, ali ao lado do campo de bétis, e pensei nos fardos que a vida coloca em nossas costas durante a nossa trajetória, tentei encontrar aonde perdi aquele velho sorriso despreocupado...onde perdi aquele Rafael.
Sem me deixar pensar, ouvi aquele velho assovio, e o eumenino me dando um tapa na cabeça: "Ou, o pai falou que é pra você entrar também, mano". Perguntei, como havia me reconhecido agora, e ele disse que já me reconhecera antes, mas quis me fazer ver que o que muitas vezes eu tento ser não é verdade, que é dali que eu vim, e é aquilo, aquele muleque simples que eu sou!

quarta-feira, março 23, 2011

A última placa.

Ontem passei por duas placas, nunca antes avistadas...a primeira e misteriosa trazia a descrição "19º quilômetro"; nessa estrada me ví em algumas madrugadas perdido pela cidade, na companhia de poucos e bons amigos, todos bêbados e com um Chicken Jr na mão. Me deparei comigo, descendo a rua sozinho, as 7 horas da manhã, com a pré-ressaca em minhas costas e o desaparecido Bule em uma das mãos. Consegui enxergar até mesmo o polo, ou famoso Paulo, rodando por essa cidade pacata, procurando olhos para se mostrar e postos para se resguardar.
Após esse lapso de flashs, como se fossem filmes dos meus finais de semana, festas e derivados, passando vagarosamente pela estrada; reparei em algumas mulheres em um ponto de ônibus, quando parei para melhor reparar, ví que todas elas (que no caso eram poucas), um dia pegaram 'carona' comigo no meu Décimo Nono quilômetro de vida; estavam todas radiantes, 2 vezes mais bonitas do que quando as conheci, algumas felizes por me reencontrar...outras nem tanto. Afastada desse ponto, estava ela, com seu tamanho reduzido, chutando pedrinhas no acostamento e dando aquela risada divina! Curioso como só, fui devagar, checar quem seria aquela perdida em minha rodovia...bastou um relance e pude avistar seus olhos, aqueles inconfundíveis, aqueles de ressaca, aqueles que me fazem companhia até hoje.
Após ganhar essa companhia inusitada que a estrada da vida me ofereceu, continuei percorrendo aquela imensidão de asfalto; e então, quase não acreditando me deparei com 4 pessoas caminhando 'juntas', juntas entre aspas, pois devido as personalidades distintas os 4 pareciam não caber em apenas uma estrada! Um era meu pai, sempre com pressa, com a camisa suada e sua montanha de papéis e NF´s, me perguntando: Rafael, não seria essa a profissão certa para você?!; a outra era uma mulher cujo nome não citarei e que sou agradecido até hoje, andando com sua simplicidade e ao mesmo tempo com sua arrogância, pisando firme e parecendo olhar sempre para frente, buscando novos horizontes ou talvez temendo seu passado e me ordenando: Rafael, pegue esse telefone e venda, eu te pago para isso!; o terceiro era um homem de média estatura, sempre de camisa, calça social e sapato, por mais que fosse o sol que fizera no dia, com algumas caixas de sapato equilibradas nas mãos e me indagando: Rafael, muito calor no estoque né?! Mas é Dezembrão! é Dezembrão!; a última mas não menos importante, era uma senhora, com cara de boazinha, roupas elegantes e um jeito atrapalhado mas concentrado, sempre zelando pela ética no trabalho, me chamando a atenção: Rafael, já disse que documentos podem emperrar na máquina de xérox, espero que isso não se repita. Todos esses que um dia foram meus 'pais' pois me deram uma oportunidade em um momento difícil da minha jornada.
Depois de todas essas eSquetes da minha trajetória ao longo de apenas um quilômetro de minha vida, avistei a segunda placa, muito distante... acelerado e curioso, fui em busca da misteriosa, quando ví estava parado ao lado dela...olhei bem, lí com muita atenção, segurei na mão da minha pequena e segui viagem.

Essa segunda e última placa, trazia os seguintes escritos: Bem-Vindo ao 20º quilômetro. Feche os olhos, vá em frente e seja feliz!

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Telefonema de um velho conhecido.

Esses dias recebi uma ligação importante, era o Sr. Carnaval do outro lado da linha! Me perguntava se o faria companhia em mais um ano, quais as bebidas que ele poderia oferecer e quantos amores me proporcionar.
Confesso que sua tristeza foi notada até pelo telefone, quando disse que esse ano serei mais cauteloso, pedi que me guardasse algumas bebidas pois ainda mereço, mas em relação as paixões não me interessavam mais. Então, numa mudança repentina de triste à inconformado, indagou aos berros, como iria recusar as companhias das ‘belas’ damas que ele sempre me proporcionou por todos esses anos, sempre enfeitando minhas noites, me embriagando com seus trejeitos...
Por um momento me contive as lembranças, lembranças de um passado bom, de muitas alegrias, paixões e ressacas; busquei dentro do meu coração a razão pela qual estava abrindo mão disso tudo, e como um anjo ela apareceu.
Expliquei ao Sr. ‘Feriado Brasileiro’ que agora estava apaixonado, estava enfeitiçado por uma pirata! E ele logo supôs que seria uma coisa passageira, que acabaria em breve; mas eu lhe contei que um dia tomei um sorvete com a ‘tal’ e que desde aquele dia, me apaixono todos os dias!
Então, em uma gargalhada, me perguntou:
- Mas Rafael, não foi sempre assim?
Respondi com toda a certeza do mundo e com uma paz que a lembrança Dela me causava:
- Sim, a única diferença é que já fazem 6 meses que me apaixono pela mesma mulher todo santo dia!
Sem entender, ficou mudo; questionou-me sobre a essência desse sentimento, queria entender como ela foi capaz de tal feito...
Essa resposta não fui capaz de oferecer, acredito que não consiga formular essa resposta nem com a mais profunda reflexão, nem com anos de estudo; não conseguiria decifrar a causa da minha felicidade quando ouço sua voz, nem os motivos do meu sorriso quando a vejo reclamar que está com ‘prigui’, ou então o porquê de minha serenidade quando a vejo dormir... Infelizmente essa resposta fiquei devendo ao meu amigo Carnaval.
Depois de desligar a inusitada ligação, corri ao “Google” e pesquisei:
- O que é o amor?
E finalmente descobri que para os que realmente amam, o significado não se contem à explicações teóricas...
Agente simplesmente, sente.