Feliz aquele que o coração não conhece a dor, em que a vida
não esteja calejada. Contente com pouco, livre de fardos e remorsos.
A historia de que o crescimento vem da dor é verídica, porém
é um remédio que incomoda, arde, dói e dói e dói.
De palavras tenho me abstido, busco olhares, sensações e
solidão. Talvez essas poucas que escorrem sejam as únicas no cano de minhas
ideias; que com preguiça não faz chover inspiração no deserto pessoal que
atravesso.
Se houvesse um cacto de onde tirar água, se essa matasse minha
sede... porém ela é turva e nada agradável. É quase como uma piada de mau gosto
ou uma ofensa, que aparece para me afogar em 2 cm de lágrimas.
A música é interminável, que toca e toca e toca e toca;
quase como um soneto para os anjos que me rodeiam a todo tempo. O silêncio
talvez os agrade, traga cada um deles pra perto, sentado em cada fio de alta
tensão numa rua velha, desgastada, com cheiro de chuva e traços de infância.
O coração é apertado pelos ossos, a cartilagem o sufoca como
uma mãe super protetora; marinado no álcool ele perdeu sua bússola e sua
ancora. Seu ancoradouro não tem profundidade, uma poça talvez já de conta do
serviço.
Esse quilômetro tem sido turbulento, os postes de iluminação
não ajudam; e de trevas eu vou tropeçando, caindo as escondidas, levantando aos
trancos, esquecendo com os copos, vivendo assim.
E a dor?! É invisível até aos olhos dos próximos; ela vive
aqui, no canto, quieta; mordendo a felicidade.
Mordendo pouco, mas ainda mordendo.